16 de jan. de 2010

Dow Jones e a Janela


Números e mais números, especulações, gente comprando, gente vendendo. Milhões passando de um lugar para o outro, e por causa de uma frase, um fato ocorrido ou uma declaração de gente influente, e algo que valia ouro agora vale lata. É assim na bolsa de valores, é assim no futebol brasileiro.
Se considerarmos os jogadores de futebol como ações de uma empresa, a semelhança é maior ainda. Vou expressar aqui a minha opinião sobre esse período de contratações e boatos pelo qual estamos passando. Tenho uma percepção diferente das coisas e de como elas acontecem. Pode ser que após ler esse texto, suas conclusões à respeito desse tema mudem um pouco, pode ser que não, veremos.
Mostrei para vocês agora no comecinho do texto como o mercado de ações pode ser parecido com o vai e vem do mercado de jogadores profissionais. Além do fluxo de dinheiro e da (des) valorização de ações (ou jogadores) mediante a fatos, boatos ou declarações. Vou mostrar por que aluns outros conceitos aplicáveis à Nasdaq, Ibovespa e Dow Jones podem ser vistos e percebidos no Flamengo, no Vasco, no Corinthians, no São Paulo, no Milan...





Sigilo de informações

Vejo muitos torcedores reclamando que enquanto time A ou time B contratam, seu time está parado e não está se reforçando. Não acreditem nisso. O que acontece é o seguinte: é MUITO melhor para o time e para a negociação que a contratação não caia na mídia e que o torcedor não saiba. Por quê? Simples. Negociação envolvendo milhões é uma coisa lenta, demorada, meticulosa. Ninguém sai assinando cheque à torto e à direito, não existem contratos de gaveta e jogador não tem preço etiquetado na testa. Sendo assim, para o seu clube pagar menos pelo jogador que quer, é importante que ele leve um tempo barganhando com o empresário do atleta, já que estão em jogo passe, luvas, salário, premiação e tempo de contrato. Vocês acham mesmo que tudo isso é decidido em um dia, uma semana, um mês? Raramente.
O que acontece normalmente é o seguinte: No meio da temporada, o time B se interessa pelo meia Fulano da equipe A. Mandam uma pessoa ligada ao clube para falar com o empresário do meia e avaliar a situação do jogador (quanto tempo de contrato, quanto pagam de salário, qual é a moral que tem com a torcida, etc.). Com essas informações, ele volta ao clube. Se o clube gostar do cara, a conversa é com o departamento de futebol do time A. Hoje em dia jogador de futebol é como uma empresa S.A. (sociedade anônima), ou seja, a negociação pode envolver mais de um dono dos direitos do jogador. Tendo isso em vista, uma negociação pode começar em junho e ser fechada apenas em fevereiro. Ora, mas por que o sigilo é interessante? Por que se cai na mídia, esta cria uma novela, tentando todos os dias dar uma notícia sobre o jogador. O torcedor, impaciente, vê o nome do clube relacionado ao cara por cinco dias seguidos e acha que está demorando demais. Além disso, um time de maior expressão e poder econômico pode atravessar a negociação, fazendo o que era uma tentativa de barganhar virar um leilão. Entenderam agora? Creio que nenhum flamenguista se lembra de "novela Álvaro" ou "novela Maldonado". Ambos fecharam com o clube da Gávea e se apresentaram sem nenhum alarde. Seus nomes foram veiculados já com tudo acertado. Agora imagina se um mês antes do acerto aparece na mídia: "Flamengo luta por Maldonado". Aí aparecem Cruzeiro, São Paulo, Santos, Grêmio, Corinthians... querendo oferecer mais ao empresário. Ele, que não é bobo, vai negociar com quem fizer a melhor proposta, e não por ordem de chegada. E é nesse quesito que o Flamengo se mostra eficiente nas contratações. O clube nesses últimos anos usa um jogador de nome como cortina de fumaça para a imprensa. Lança nome e vontade de contratá-lo para a mídia e sai para conversar com outros jogadores. Enquanto os jornais noticiam que o Felipe pode vir dos emirados para o Fla, o clube conversa com Emerson, Álvaro, Willians... sem ninguém querendo dar lance mais alto, sem torcedor atrapalhar as negociações e sem interferência da mídia e dos gatos mestres que são especialistas em falar mal de jogadores contratados sem nem esperar para vê-los em ação.






Ações em alta e ações em baixa.

Perna-de-pau hoje, monstro amanhã



Torcedor tem direito de cornetar aquele perna-de-pau que a diretoria trouxe pra sanar o problema da zaga? Claro. Mas tem que entender que às vezes aquele jogador não É um “pereba” completo, simplesmente passa por uma má fase. Imaginem que o Grêmio contratou um menino argentino desconhecido chamado Messi. Mas imaginem que o Grêmio dessa época é o time de Jardel, que tem como ponto forte o vigor e as jogadas aéreas. O jovem Lionel seria banco eterno e provavelmente seria negociado com um clube de menor expressão. Alguns jogadores simplesmente não se encaixam no estilo de jogo da equipe, ou não se adaptam à cidade, ou se desentendem com técnico/elenco, ou... são ruins mesmo. Em todos os casos, exceto o último, pode ser que aquele cara de certo indo para um outro clube, com um ambiente diferente, estilo de jogo diferente, companheiros diferentes, filosofia de treino diferente. Um exemplo perfeito? Cristian, ex-Atlético Paranaense, Flamengo e Corinthians, hoje no Fenerbahçe. Acreditem se quiser, Cristian era reserva do CAP, os torcedores o achavam ridículo e sem futebol. Foi trocado com o Flamengo por Claiton, que segundo os Flamenguistas "só sabia bater palma e olhar para os dois bandeirinhas ao mesmo tempo". A troca deu certo para os dois lados. Claiton virou cão de guarda do time do Paraná e Cristian, homem de confiança de Joel Santana, sendo peça chave do esquema famoso pela arrancada até a Libertadores em 2007. Em 2008, Joel vai para a África do Sul e, em seu lugar, assume Caio Júnior. No esquema tático de Caio, Cristian foi sacrificado, ganhou banco eterno e saiu do Flamengo pela porta dos fundos. O volante que ficou em seu lugar foi Jaílton, um dos últimos remanescentes dos Ipatinga Boys, leva de jogadores contratados por Ney Franco, que treinara o Fla antes de Joel. Jaílton era um exemplo de "ruim mesmo" e Cristian de "depende de onde está". Pior para o segundo. Ao sair do Flamengo foi para São Paulo defender o Corinthians, de Ronaldo, Jorge Henrique, André Santos e cia.. Cristian recuperou o bom futebol, fez gols decisivos e foi Campeão Paulista e da Copa do Brasil. O alvinegro vendeu o atleta por aproximadamente sete milhões de reais, dos quais um milhão foram para o Flamengo, que ainda tinha uma parcela do jogador. Um exemplo claríssimo de um "pereba" que virou jóia, que virou pereba, que virou jóia de novo. O Flamengo, apesar do mole que deu, trocou o Claiton por um milhão de reais... Alguém aí compra o Claiton por um pastel e um refresco? Não... muito caro... talvez só pelo pastel... e sem azeitona.
Outro exemplo mais fácil de ser contado é o de Adriano: a Internazionale de Milão deu Vampeta e pegou Adriano e Reinaldo (o que jogou no Botafogo em 2009). Vejam hoje quanto vale o Imperador.

Com isso, deixo claro dois tópicos que espero ter esclarecido, e espero ter aumentado o ponto de vista de vocês, mostrando que o fato de a mídia não noticiar (felizmente) não quer dizer que seu time não está tentando se reforçar, e que aquele jogador que aparentemente é fraco pode ser um monstro, só está no lugar errado ou na hora errada. Então, da próxima vez que o seu jornal colocar a parte de esportes colada com a de economia, certifique-se de ler o caderno todo. Até a próxima.

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