As semifinais do Campeonato Carioca foram marcadas por surpresas. Confere? Sim e não. Uns vão dizer que "deu zebra" ou ainda que "o futebol é uma caixinha de surpresas"; outros vão dizer que Vasco e Botafogo se classificaram merecidamente; poder-se-á dizer ainda que a dupla Fla-Flu perdeu seus respectivos jogos, e não que os finalistas os venceram; ou ainda que deu a lógica, uma vez que o Vasco tem o melhor meio-de-campo do futebol carioca no momento e o técnico Joel Santana acertou o time do Botafogo.
Subjetividade à parte, uma vez que "opinião (ou gosto) não se discute", algumas "verdades" devem ser esclarecidas. Quando digo "verdades", me dirijo aos críticos de plantão, pois diriam que me coloco como dono da verdade, coisa que não sou e nunca serei. Este é um espaço para exposição de opiniões, nada mais.
Primeiro, o Fluminense (para não dizer Fred) não estava num de seus dias. Não quero dizer com isso que o azar foi o único responsável pela eliminação do Fluminense. O tricolor dominou a partida em alguns momentos e seu artilheiro abusou do direito de perder gols. Os garotos Alan e Bruno Veiga estavam numa noite infeliz, sem dúvidas. O sistema defensivo mostrou-se seguro por vezes, à exceção de algumas boas trocas de passe do meio-campo vascaíno. Ademais, méritos para Fernando Prass, muito regular durante os 90 minutos; Carlos Alberto, que jogou no sacrifício e ainda assim fez boa partida; e Phillipe Coutinho, incansável e ousado. A presença de Dodô pouco teria sido notada se ele nao cobrasse um dos pênaltis que classificaram o Vasco.
Segundo, o próprio Vasco que, com seu meio-campo envolvente, tocou bem a bola não apenas na semifinal, mas em toda a Taça Guanabara. Posso estar sendo parcial ao dizer que o Vasco merecia estar presente numa final de turno esse ano, mas os que realmente acompanham a competição vão tomar partido de minha opinião. A defesa tem estado segura, levando gols em apenas dois jogos. O sistema ofensivo, com os volantes subindo, Carlos Alberto e Phillipe Coutinho dividindo a responsabilidade na armação e Dodô, inspirado ou não, fazendo a diferença, levou o time à marca de 6 vitórias em 8 jogos. Tem dedo do técnico Vagner Mancini nesse bom começo de ano dos cruzmaltinos.
Terceiro, não se trata de um golpe de sorte do garoto Caio ou do time do Botafogo ao ter vencido o Flamengo na Quarta-Feira de Cinzas. Independente de quem tem mais estrela, o autor do gol ou Joel Santana, é evidente que a chegada do técnico deu ânimo à torcida e ao elenco, que ganhou a cara do novo comandante. O sistema defensivo ganhou mais consistência no esquema com três zagueiros, dos quais só Fahel parece meio perdido. A aposta na subida frequente dos laterais fez Marcelo Cordeiro aparecer com mais chances de gol. Quanto a Alessandro, a carência é técnica mesmo. Mas finalmente o ataque com Herrera e Loco Abreu parece ter encaixado. O argentino, incansável, e o uruguaio, preciso nas bolas aéreas, prometem dar alegrias à torcida
Por último, mas não menos importante, Andrade perdeu o duelo de técnicos nas substituições no segundo tempo. Enquanto Joel sacou Lúcio Flávio, um meia, para dar lugar a Caio, um atacante, o técnico rubro-negro tirou Vinícius Pacheco, que vinha bem na partida, para colocar Petkovic. Logo, uma troca de jogadores de mesma posição. Joel partiu para o tudo ou nada, e foi aí que levou o Botafogo à final. É certo que o Flamengo dominou boa parte do jogo, não faltou disposição, mas a bola não queria entrar, como ficou nítido em alguns lances de Vagner Love, indignado com os gols que perdeu.
Foi assim que Vasco e Botafogo mereceram (sim, isso vai divergir opiniões) realizar a final da Taça Guanabara. Será o confronto entre uma defesa sólida e pouco vazada durante todo o turno e outra acertada após a chegada de um novo comandante; entre um meio-de-campo altamente técnico e que ao mesmo tempo avança e marca sem perder qualidade e outro que mais marca que ataca, que joga deixando o adversário jogar, para então dar o bote e contra-atacar; entre um ataque com alto contraste de idades, que confere ao elenco juventude e experiência e outro "sul-americano", com dois "gringos" que falam o mesmo castellano com sotaques diferentes, mas falam (e bem) o idioma da bola e já mostraram ser capazes de se entender em campo. A final será, certamente, recheada de emoções.